O Amor é uma Companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

*Alberto Caeiro ou será Fernando Pessoa? Enfim, é, é isso aí.

Vou te contar meu sonho

Dedilha em seus cabelos, enquanto os lábios dela assobiando bem baixo. Mal resiste, volta a contemplá-la. Procura cada detalhe com os olhos, vê o ombro descoberto. Pequena carícia, logo lençol o acolhe. E todas as cenas em sua companhia são flashes. O rosto para cima.
– Deus, obrigado por mais um dia.
– Você não é de falar com Deus.
– Sempre rezo ao acordar.
– Não reza, não. – arqueia a sombrancelha, enfrenta-o.
– Sempre rezo.
– Não reza.
– Claro que rezo. – avança, aproximam os olhares, ela se recua no travesseiro. Os narizes se estranham, ou brincam, como foi assim a juventude. – Todo dia tenho que agradecer por você estar do meu lado. – os lábios se encontram para variar.
– Fo-fo. – ele se enrusbece – Agora volte a dormir, está cedo.
– Podemos aproveitar melhor o sábado.
– Você está aposentado, e vive trabalhando dentro de casa. Qual é a diferença de hoje para os outros dias?
– O Raphael disse que ia trazer a Náthalie com a Mari agora de manhã.
– Tá, vou fazer o café-da-manhã.
– Não, gatinha. – deita-a sobre a cama, aperta-lhe os braços com cautela. – Pode descansar, deixa que eu me ajeito na cozinha.
– Até hoje estou esperando você fazer aquela lasanha.
– Essa promessa deve fazer uns, uns, quarenta anos.
– E depois de tanto tempo, você decide cozinhar apenas por causa da sua primeira neta?
– NOSSA primeira neta. É, ansiedade. Sabe como sou ansioso.
– Você não mudou muita coisa desde a primeira vez que nos vimos.
– Estou grisalho.
– Seu sonho é assim? – ah, sim, a luz da janela bate bem naquele rosto meigo, sensível, pelo qual até hoje ele se perde.
– Exatamente desse jeito. E o seu? – aflita-se com o silêncio dela. Aflita-se também com o barulho da cadeira caindo lá na sala de jantar. – Só não esperava que essa pulguenta já soubesse pular a cerca da área. – ela sorri, balança a cabeça reprovando, e volta a sorrir.

*Lincoln, esse é meu sonho.

É, em um lugar qualquer

Deve haver um mundo não tão distante que gostaria de te levar. A saudade aperta e nada mais é sereno, incrível do que poder segurar em sua mão durante algum trajeto – nem que seja um pequeno número de passos, sério. Talvez seja a distância, o desafio ou até mesmo a saudade que me faz encher o peito desses sonhos. Ou a resposta seja óbvia e breve, como todos devem desconfiar.

Não há frio demais, nem chuva intensa que possa me fazer gostar de outra maneira. Me fazer mudar meu destino, meu rumo. Abraçados em Veneza, ou tentando enxergar alguma estrela no Japão. Um chocolate quente em Campos do Jordão ou voltar a ser criança (castelos de areia é tão ruim assim?) em Fernando de Noronha. Cinema ou chalé ou casinha de sapê. Enfim, qual a diferença desses lugares? Nada mais importa do que ter a certeza que você estará sempre por perto.

Notar se é seu olhar continua a brilhar, se o sorriso tem aquele gosto que por dias me perdi. Aproximo, tento te abraçar sem jeito – às vezes, parece quase que estou dobrando sua coluna, e o que menos quero é te ferir. Até porque apenas quero compartilhar a alegria de contemplar você por mais um minuto. Contarei inúmeros casos pra te manter mais tempo atenta, mas, por ora, podemos ficar em silêncio. Assim, ressalta mais fácil quando cochichar que te amo.

*Lincoln Spada, acordado em devaneios

O Amor

Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção. Pode ser a pessoa mais importante da sua vida.

Se os olhares se cruzarem e neste momento houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.

Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante e os olhos encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente divino: o amor.

Se um dia tiver que pedir perdão um ao outro por algum motivo e em troca receber um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e os gestos valerem mais que mil palavras, entregue-se: vocês foram feitos um pro outro.

Se por algum motivo você estiver triste, se a vida te deu uma rasteira e a outra pessoa sofrer o seu sofrimento, chorar as suas lágrimas e enxugá-las com ternura, que coisa maravilhosa: você poderá contar com ela em qualquer momento de sua vida.

Se você conseguir em pensamento sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do seu lado… se você achar a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados…

Se você não consegue trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite… se você não consegue imaginar, de maneira nenhuma, um futuro sem a pessoa ao seu lado…

Se você tiver a certeza que vai ver a pessoa envelhecendo e, mesmo assim, tiver a convicção que vai continuar sendo louco por ela… se você preferir morrer antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na sua vida. É uma dádiva.

Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro. Ou às vezes encontram e por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.

É o livre-arbítrio. Por isso preste atenção nos sinais, não deixe que as loucuras do dia a dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: o amor.

*Carlos Drummond de Andrade – porque ele me descreve bem

Súplica a Ninguém

‘Por favor, me arranque desse vazio, desse fundo que me faz tremer.

Todas as fotos sorriem nessa noite chuvosa que me impede de tudo.

Será que posso confiar em você? Que posso confiar em mim?

Sinto tanto a falta de algo que nunca terei. A dor me corrói.

Espero que você nunca passe por isso…

Por que nem sei se vou conseguir passar também.

Não, não mereço sentir tanta dor. Salve-me de mim.’

*Lincoln, o orador