Carinhos ao despertar

02

Não era a primeira vez que escutava seu ronco. O filme de três horas já tinha chegado pela metade, a vista dela já estava cansada para acender a luz da sala e o relógio, bem, o relógio já marcava duas horas da madrugada. A outra gatinha, felina mesmo, também estava estirada no sofá com o rapaz.  Pouco restava a ouvinte, que esperou uma semana inteira para ver o seu barbudo, além do convite de dividirem a cama no quarto ao lado. E ele, antes tão agitado, perdia-se sonhando em já abraçá-la noutro fim de semana. Admirando-o, ela o aceita mesmo dormindo. Da mesma forma que, ele a aceita naquele sono gostoso da manhã seguinte. Tão menina, tão mulher, tantos planos bons. Já sonhava que estavam juntos em algum canto do planeta. Enquanto ele, do outro lado do quarto, nem conseguia fazer a mala ao observá-la repousar tão doce sobre o edredom. Fechava a mala e a espiava, cobria-a, deitava do lado. Não, durante a manhã, não tinha roncos. No máximo, um mal humor que passava com duas fatias de pão frito, e voltava a mais um cochilo. Enfim, tomavam horas juntos e em silêncio. E ao acordarem, despertavam um misto de saudade e vontade. Porque independente de onde vivem, quando se entreolham, existe carinho.

*Lincoln, com uma calmaria inexplicável ao acordar