A minha namorada necessária

01A Tatiana rastreou cada passo meu. Há umas duas semanas, chorei no expediente e um colega a avisou. Há um mês, mandei uma mensagem tristonha. Há uns quatro, acordei com seu SMS. Toda vez ela me ligava em seguida: “Lincoln, você é incrível, tem um coração enorme e você não merece sofrer tanto assim”. A conversa no celular se arrastava por hora e quase sempre encerrava no almoço do dia seguinte.

Meu choro era por abandono. E abandono costuma ser consequência do erro do abandonado. Na minha situação, foram os dois anos mais felizes em casal, a outra pessoa queria arriscar a sorte e crescer sozinha. Disse que me amava e seria uma fase. Não avisou: vou te a-ban-do-nar, ignorar ligações, evitar encontros, esquecer sentimentos e querer outros corpos. Mas fez dessa forma constantemente e por meses.

Foi (e é) tão inexplicável o abandono que só fui choro e vazio. A decepção, dúvidas e mágoas consomem os dias, as emoções. Procura-se causas que não existem, ora cria expectativas exageradas de final feliz, ora vive enormes abismos por desconfiar das pessoas. Se é abandonado por alguém lhe fez tão feliz, para que conviver com outros? Nem toque em auto estima. Ou você se afoga na solidão ou mergulha nas antigas lembranças da companhia amada.

Precisei partilhar minha dor com alguém. Ache-a pouca, mude de assunto, aconselhe, mas não seja indiferente. A Tatiana, não era indiferente. Por vezes, aceitou acelerar o carro para me pegar na redação. Descia correndo as escadas para abraçar a única mulher do mundo disposta a me abraçar. E almoçamos juntos. Ou lanchamos juntos. Ou íamos ao cinema. Ou ela só estacionava o carro em frente ao meu apê para ouvir com toda sua paciência a minha ladainha pela enésima vez até fazermos graça.

Se não podia reconquistar a amada durante estes dez longos meses, a Tatiana foi a minha “namorada” necessária. Sim, sem beijos ou transas, mas de me fazer acreditar em paixões. Encontrar com ela fez com que queira ter vontade de levantar a cabeça e não falar tão baixo, em querer me olhar no espelho e ver se, pelo menos, estou “apresentável”, em tirar fotos, em ter vontade de conversar, de fazer piadas, de não temer ser criança, de ser o melhor adulto possível, de não ter tanta dor, de confiar nas pessoas, de não ter medo de amar alguém, de tentar se manter um pouquinho equilibrado.

Tati, serei eternamente grato por dedicar tanto tempo pra me fazer sorrir. Desejo toda a saúde, paz, sucesso e amor do mundo para você conquistar seus sonhos, como uma boa carreira e uma família feliz. Feliz 23º aniversário, menina moça.

*Lincoln, o garoto do coração enorme