Entrabraços – Carta para minha mulher

01Santos, 8 de março de 2 014,

Querida, minha mulher,
E que bom que você torceu o nariz, porque você não pertence a ninguém, é livre. E na minha vida, sempre tem a liberdade de concordar, discordar e questionar minhas atitudes. Como também tem a liberdade de deitar em meu colo pedindo afago ou de gritar comigo, e até de bater à porta na minha cara se tiver usando o banheiro. Você tem liberdade de me fazer sorrir e de me fazer chorar inúmeras vezes, de tirar meu sono para ir na sua balada predileta ou de apenas segurar na minha mão e dizer que tudo vai estar certo.

Você é livre se quiser dividir a conta do restaurante, livre se quiser dirigir até o hotel, livre se fingir ter dor de cabeça, livre se reclamar de meus pratos, livre de me admirar resmungando enquanto lavo a louça, passo a roupa ou conserto a descarga do vaso sanitário. Você é livre para usar qualquer roupa (e até ficaria feliz, se não usasse com as janelas fechadas) dentro de casa. Você é livre para pedir massagem, cansar de meus elogios ou só querer deitar de conchinha no sofá. Você é livre para olhar nos meus olhos e pararmos o tempo contemplando um ao outro por uma tarde inteira de sábado, quase sem trocar palavras, ou de querer mexer no celular e ler um livro.

Não, não espero fidelidade na relação. Tem tantos homens e mulheres no mundo para você querer conhecer e quem sou eu para cobrar sua libido? Também não espero mansidão, serenidade ou um mar de rosas em nosso lar, porque você é livre para se estressar, quando for necessário (ou para me despertar de um erro para que eu amadureça, ou porque você precisa errar para amadurecer). Só peço cumplicidade.

Porque quero ser cúmplice de suas tristezas. De estar ao seu lado quando você discutir no trabalho (porque mulher minha, pode sim, ser rainha fora do lar), de estar ao seu lado quando não conseguir falar com seus pais, de estar ao seu lado quando se arrepender das palavras duras ou se sentir solitária demais. De estar ao seu lado quando estiver indecisa, bombar em faltas numa disciplina da sua pós ou de quando entrar a barata no quarto. De estar ao seu lado quando for diagnosticada com uma doença (mulheres fazem mais check-ups que homens) ou quando tentar fazer dietas radicais. Ou de estar ao seu lado apenas num dia frio demais ou até quando falecer sua amiga.

Porque quero ser cúmplice de suas alegrias. De estar ao seu lado nos bailes de suas formaturas, de estar ao seu lado quando receber uma promoção no emprego, de estar ao seu lado quando for natal na casa de sua família, de estar ao seu lado em todos os lugares do mundo e de estar ao seu lado no aniversário de nosso primeiro beijo. De estar ao seu lado quando quiser tocar uma música ou que eu lhe desenhe e recite poemas. De estar ao seu lado em debates, cursos e retiros que sempre nos façam repensar em nossa humanidade. De estar ao seu lado levantando bandeiras por causas sociais. De estar ao seu lado em um dia ensolarado no parque mais verde da cidade. De estar ao seu lado quando você engravidar.

Mas tudo bem se não planejar filhos, véu ou cabelos brancos. Prometo ser o homem mais cúmplice de sua vida, de lhe surpreender todos os dias, de amar você e fazer-se sentir amada a cada vez que me encara nos olhos. Prometo entender que haverá momentos que estaremos mais próximos e outros em que precisaremos nos afastar de vez. Prometo sempre alertar você quando perceber qualquer risco ou atitude errada. Prometo tentar cumprir todas suas exigências, mas pegue leve. Não vá me dar menos valor por deixar você tão livre.

Prometo também sempre lhe tratar como a melhor filha, irmã, profissional ou mãe do mundo. Desculpa, se eu for meio lerdo para entender você. Não sou perfeito, só o amor que posso oferecer a você. Como também sei que, durante todas as nossas experiências, você também descobrirá que sempre me ame (por mais que, às vezes, não queira expressar). Mas tratando você assim, com amor, duvido que você ainda não queira morar em meu coração. E por ser tão livre, escolher ser minha mulher por toda a vida.

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